quarta-feira, 31 de julho de 2013

As desilusões hídricas do velho Chico

Maior obra de engenharia hidráulica em curso no mundo, a transposição do rio São Francisco foi severamente criticada durante a 65ª Reunião Anual da SBPC, em Recife.
Por: Henrique Kugler
Publicado em 24/07/2013
O objetivo do projeto de transposição do rio São Francisco, um dos mais importantes cursos d’água do Brasil, é abastecer parte da população que vive em regiões castigadas pelas secas. (foto: Glauco Umbelino/ Wikimedia Commons – CC BY 2.0) 
 
Ele outra vez. O projeto de transposição do rio São Francisco continua em debate. Ainda é, em verdade, um tema deveras sensível aos nordestinos, e esteve na pauta da 65ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em Recife.

Para os que chegaram atrasados à discussão, eis o resumo da ópera: já seguem a todo vapor as obras faraônicas que deverão desviar o curso das águas do São Francisco. A ideia, em princípio até convincente, seria abastecer parte da população que vive em regiões castigadas pela inclemência das secas.

Soa como boa intenção. Mas, segundo alguns, as reais motivações de tal empreitada são obtusas. Pesquisadores há décadas questionam a legitimidade da obra – argumentando que seu verdadeiro propósito pode estar em algum ponto entre a obscuridade política e a corrupção pura e simples.

Para discutir o impasse – que há tempos assombra hidrólogos e engenheiros –, ninguém melhor que os dois mais respeitados especialistas no tema. “Sou absolutamente contrário a essa obra absurda”, dispara o agrônomo João Suassuna, da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Seu colega não deixa barato: “É um escândalo o fato de esse projeto ainda não ter se tornado um grande escândalo nacional”, diz, consternado, o engenheiro João Abner, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). 

Razões técnicas para tamanho radicalismo retórico? Abner e Suassuna têm aos montes.

O agrônomo da Fundaj esclarece que, ao contrário do que se pensa, a água já é abundante no semiárido nordestino. Chove, anualmente, uma média de 700 bilhões de metros cúbicos no Nordeste. 
O problema é que, pela proximidade em relação ao equador, os raios solares incidem quase perpendicularmente sobre o território, o que potencializa os processos de evapotranspiração. Assim, cerca de 642 bilhões de metros cúbicos anuais de água voltam à atmosfera, sobrando apenas 58 bilhões na forma líquida para uso antrópico – indicam pesquisas recentes.

“Não precisaríamos falar em seca se usássemos com inteligência uma parte desse volume de água”, garante Suassuna, que há 18 anos dedica-se ao estudo do tema. “Recursos hídricos existem, sim, no Nordeste; o que falta é seu gerenciamento correto.”

Detalhe: segundo o pesquisador da Fundaj, a transposição não resolverá o problema de abastecimento das populações difusas. “Trata-se de um projeto destinado ao grande capital, a contemplar majoritariamente os grandes produtores rurais e o setor industrial.”

Da desolação técnica à obscuridade política


Diante de tantas aparentes incongruências, por que sucessivos governos insistem na continuidade de uma obra tão controversa? “Ora, é muito simples”, diz João Abner. “A transposição do rio São Francisco é um projeto político.”
Obra de transposição do rio São Francisco
As obras que deverão desviar o curso das águasdo São Francisco seguem a todo vapor, em um projeto levado adiante por sucessivos governos. (foto: Programa de Aceleração do Crescimento/ Flickr – CC BY-NC-SA 2.0)

Segundo Abner, só entenderemos esse megaprojeto se entendermos a lógica de financiamento privado de campanhas eleitorais no Brasil. “Todas as empreiteiras brasileiras, um grande lobby, se beneficiam disso”, protesta o pesquisador da UFRN. “É a indústria da seca na maior escala que se pode imaginar.”

Abner não é homem de meias palavras. “Corrupção”, brada ele. “Deputados, senadores e políticos em geral são financiados pelas empreiteiras; estamos falando de uma corrupção generalizada muito maior do que o mensalão, algo muito maior do que vocês podem imaginar”, desabafa.

“Um projeto dessa magnitude tem de ser muito bem explicado; mas essa história está muito mal contada”, enfatiza. “É, na verdade, uma grande fraude técnica.”

Cifras galopantes


Segundo Abner, investimentos governamentais de R$ 20 por habitante ao ano seriam suficientes para resolver o problema de abastecimento de água de todos os camponeses nordestinos – valor menor do que o gasto com carros-pipa hoje usados. “É um problema simples, mas falta foco político.” O pesquisador garante que bastaria usar com mais sapiência a rede de açudes já existente no Nordeste e investir em tecnologia de cisternas. Vale lembrar: no polígono das secas, chove mais do que em regiões com grande sucesso agrícola na Califórnia (Estados Unidos), por exemplo.
Abner: Bastaria usar com mais sapiência a rede de açudes já existente no Nordeste e investir em tecnologia de cisternas para resolver o problema de abastecimento de água na região

Falando em grana, Suassuna lembrou à plateia os valores orçados para a obra de transposição em diferentes momentos. No governo José Sarney, falava-se em custos de R$ 2,5 bilhões. Já na gestão de Fernando Henrique Cardoso o valor saltou para R$ 4,5 bilhões. Com Lula, foi para R$ 6,6 bilhões. E, com Dilma, já está em R$ 8,3 bilhões. “Segundo fontes oficiais, não nos surpreenderemos se os próximos cálculos indicarem valores superiores a R$ 19 bilhões”, afirma o agrônomo.

“Sou pessimista”, confessa Abner. “A transposição das águas do São Francisco permanecerá no imaginário como a solução para a seca, e não é. Essa obra não vai terminar nunca.”

Henrique Kugler
Ciência Hoje On-line

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Sustentabilidade na Universidade

Inscrições on-line até 29/07/2013 para:
Programa Ações Sustentáveis na UFF - Evento: Sustentabilidade na Universidade - III Ciclo de Palestra - Tema : Agenda 21.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

A maior de todas as necessidades

Durante evento em Lindau, na Alemanha, o Nobel de Física Steven Chu destacou que é preciso enfrentar a realidade das mudaas climáticas e que temos a responsabilidade de criar soluções para o problema, com base na eficiência energética e no uso de fontes renováveis de energia

Se a necessidade é a mãe da invenção, então as mudaas climáticas são a maior de todas as necessidades. Foi essa frase que o físico norte-americano Steven Chu, laureado com o Nobel de Física de 1997 por desenvolver métodos para resfriar e capturar átomos com lasers, usou para destacar, no 63º Encontro de Prêmios Nobel em Lindau, na Alemanha, a importância do desenvolvimento de soluções para combater o aquecimento global.

Segundo Chu, que foi secretário de energia dos Estados Unidos entre 2009 e o início de 2013, as mudaas climáticas são uma realidade. Ele citou levantamentos distintos realizados pela agência espacial norte-americana (Nasa), agência meteorológica e oceanográfica norte-americana (Noaa) e Universidade de Berkeley, que revelam que a temperatura média da superfície da Terra aumentou quase 1,5 ºC nos últimos 200 anos.

O físico acrescentou que o ritmo de subida do nível do mar, que pelos últimos 2 mil anos variou entre zero e 0,02 mm anuais, atinge atualmente uma taxa de 3 mm por ano. Por outro lado, análises de elementos presentes em amostras de gelo acumuladas há 650 mil anos indicam que houve picos de temperaturadevido à maior concentração de gás carbônico na atmosfera – e aumento do nível do mar ao longo desse período.

Por exemplo, há 120 mil anos, a temperatura média era 2 ºC maior e o nível do mar estava 6,6 metros acima do atual. “Isso quer dizer que o aquecimento que estamos vivendo é parte de um ciclo natural e não temos que nos preocupar?”, questionou o físico. E alertou em seguida: “Temos que nos preocupar e muito, porque os aumentos observados agora ultrapassam a escala estabelecida nos últimos 600 mil anos. De fato, eles ultrapassam os valores dos últimos dois milhões de anos.”
Steven Chu
O físico norte-americano Steven Chu, vencedor do Nobel de Física de 1997, foi um dos participantes do encontro que reúne nesta semana em Lindau, na Alemanha, 35 ganhadores do prêmio e 600 jovens pesquisadores de 78 nações. (foto: Fred Furtado)
Para Chu, temos que abordar a questão das mudaas climáticas por um ângulo epidemiológico, como foi feito com a associação entre fumo e câncer. “Mesmo não havendo um modelo, havia uma clara relação entre o hábito de fumar e o desenvolvimento de câncer. Ocorre o mesmo com a liberação de gases de efeito estufa pela humanidade e o aquecimento global.”

Eficiência energética

Chu apontou alternativas para combater as mudaas climáticas, como o desenvolvimento e uso de aparelhos mais eficientes do ponto de vista do consumo de energia. Ele ressaltou que as geladeiras norte-americanas hoje – embora sejam maiores que as de antigamente – gastam 22% menos energia do que em 1975, quando o governo dos Estados Unidos estabeleceu padrões de eficiência mínima.

“Elas também são mais baratas, o que pode parecer contraintuitivo; mas essa é a realidade que observamos também para as máquinas de lavar“, acrescentou o físico. “Ainda não se sabe as razões para isso, mas suspeito que tenha a ver com o fato de a indústria ter se adaptado à produção desses eletrodomésticos e ganhado eficiência no processo.”

O pesquisador citou ainda o desafio EV Everywhere (algo como ‘veículos elétricos em todos os lugares’), laado pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos em março de 2012 e cujo objetivo é permitir que as companhias norte-americanas desenvolvam, até 2022, um carro de passeio elétrico para cinco passageiros tão barato quanto os equivalentes à gasolina.

“Já existem carros elétricos extremamente eficientes e que podem competir com veículos esportivos, mas eles custam 80 mil dólares e o que queremos é algo em torno de 20 mil dólares”, explicou o físico, acrescentando que, para isso, é necessário desenvolver baterias com maior densidade energética, durabilidade e tolerância à temperatura, além de reduzir seu custo. “Atualmente, elas custam 500 dólares por kWh, mas queremos chegar a 300 dólares por kWh em 2015 e 150 dólares por kWh em 2022”, revelou Chu.

Energia limpa

O físico também destacou a importância do uso de fontes renováveis. Ele citou o programa da Agência de Projetos de Pesquisa Avaados de Energia (Arpa-e), dos Estados Unidos, que procura criar versões melhoradas do pinheiro loblolly (Pinus taeda). Além de servir como matéria-prima para a fabricação de papel, a planta poderia gerar grandes quantidades de resina, rica em hidrocarbonetos.
 “Esse pinheiro já é cultivado comercialmente em 10 milhões de acres, mas tem o potencial de produzir bilhões de litros de biocombustíveis por ano em menos de 250 mil acres”, afirmou.

Reduzir o custo da energia solar é o objetivo de outro programa do Departamento de Energia norte-americano, chamado SunShot (algo como ‘tiro ao sol’). Segundo o físico, o programa tem como meta reduzir o custo atual dessa fonte energética, que inclui instalação e manutenção de um sistema eletrônico e uma placa solar, de 3,80 dólares para 1 dólar por watt. “As companhias elétricas estão nervosas com a instalação de painéis solares na casa dos consumidores e com o modelo em que elas são forçadas a comprar o excedente de energia de volta do cliente”, observou Chu. Para ele, tornar as empresas parte da solução requer criar um modelo que seja vantajoso para elas também.
Painel solar
Para Chu, a promoção da energia solar passa por um modelo que beneficie tanto as empresas como os usuários domésticos. (foto: Robert Linder/ Sxc.hu)
A proposta do físico é que as companhias elétricas sejam responsáveis pela instalação e manutenção do sistema – elas seriam as donas do equipamento, que contaria ainda com uma bateria instalada na casa do usuário. Esse armazenamento local é vantajoso para as empresas, porque elas não precisariam construir prédios para guardar as baterias e estas não estariam expostas a vento, chuva etc., além de servirem ainda como reservatório de seguraa para o cliente em caso de blecaute.

A redução dos custos das empresas seria repassada para os usuários, que teriam uma energia mais barata. “Todos ganhariam e as companhias elétricas seriam parceiras na expansão da energia solar; é economicamente vantajoso para elas apostar nisso”, ponderou Chu. O pesquisador ressaltou a necessidade de se investir também no barateamento da transmissão de energia. “Não adianta produzir, se não há como levar a eletricidade até onde ela precisa chegar.”

O físico ressaltou que temos uma responsabilidade moral com as vítimas inocentes das mudaas climáticas: as populações pobres e aqueles que ainda estão por nascer. “Há um ditado indígena norte-americano que ilustra isso: ‘não herdamos a terra dos nossos ancestrais, nós a tomamos emprestado dos nossos filhos’”, concluiu.

Por: Fred Furtado

Fonte: Ciência Hoje

UFF e Prefeitura de Niterói inauguram primeiro ponto de acesso público de 'wi-fi' da cidade

Parceria entre a Universidade Federal Fluminense e a Prefeitura de Niterói, o projeto que integra o Programa Niterói Digital irá inaugurar nesta quarta-feira, em 10 de julho, às 15h30, na Praça Leoni Ramos (Cantareira), em São Domingos, o primeiro ponto de acesso público de internet sem fio ("wi-fi"). Qualquer pessoa portando um dispositivo móvel com tecnologia "wi-fi" (tablets, celulares, laptops) poderá acessar a internet gratuitamente nos arredores da praça. 
 
Os alunos da UFF já foram cadastrados com um login e usarão a senha do sistema de identificação única da universidade (Iduff) para acesso. Os demais usuários deverão se cadastrar para receberem a senha por SMS. Nesta primeira fase, os pontos de acesso serão implantados também em outras duas praças, a Nilo Peçanha, em frente ao Campus da Praia Vermelha, e a praça Getúlio Vargas, em frente à Reitoria da UFF. 
 
A intenção, em longo prazo, é oferecer 125 pontos de acesso gratuito sem fio de internet e tornar Niterói uma cidade inteligente. Está prevista a criação de uma rede cooperativa que interligará as residências dos moradores de Niterói e o sensoriamento da cidade, a fim de melhorar a qualidade de vida e a segurança dos moradores. O planejamento inclui a idealização de serviços como telecentros, centros de edição de vídeo e uma oficina de reaproveitamento de computadores.
 
Na cerimônia de inauguração deverão estar presentes o prefeito Rodrigo Neves, o vice-prefeito Axel Grael, o secretário de Educação, Ciência e Tecnologia, Waldeck Carneiro, o reitor da UFF, Roberto Salles, e o vice-reitor, Sidney Mello. 
 

sexta-feira, 5 de julho de 2013

II Encontro de Informação para Pesquisa Científica

As inscrições para o II Encontro de Informação para Pesquisa Científica foram prorrogadas até dia 09/07/2013. Para se inscrever é necessário enviar um e-mail para inscricoes_benf@vm.uff.br informando os seguintes dados: nome completo, e-mail, telefone, profissão, instituição a que pertence. Para mais informações acesse: http://bibliotecadaescoladeenfermagem-uff.blogspot.com.br/.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Pesquisadores instalam chip em tartarugas para rastrear deslocamento

Em estudo inédito, os pesquisadores conseguem monitorar, por satélite, o deslocamento das tartarugas marinhas nos primeiros meses de vida.

Fonte: Jornal Hoje, 02/07/2013.