Grupo que elabora relatório do IPCC destaca que os corais são a maior preocupação ambiental
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Corais estão entre os ecossistemas mais ameaçados. Fonte:
Free Photos.
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RIO - Vinte e sete ecossistemas podem sofrer impactos “graves, invasivos
e irreversíveis”, que atingirão seres humanos e outras espécies, se não
forem tomadas providências imediatas contra o aumento de eventos
extremos do clima. A maior preocupação são os corais, cuja presença não é
muito marcante no Brasil. O tema marcou as discussões de 500 cientistas
reunidos nesta quarta-feira em Copenhague, responsáveis por concluir
nesta sexta o último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas (IPCC).
Os delegados de 120 países chegaram à Dinamarca no início da semana para
cumprir uma árdua missão — cortar pela metade o conteúdo de três
documentos, elaborados há mais de um ano. Além do “cientifiquês”, a
tesoura também mexe de acordo com a vontade política de cada país. A
versão final do relatório terá, no máximo, 50 páginas, e será um reflexo
do que a comunidade internacional está disposta a fazer contra as
mudanças do clima.
— Precisamos reescrever para sintetizar (os outros documentos).
Revisamos linha por linha — descreve Suzana Kahn, vice-presidente do
IPCC. — Todas as probabilidades são questionadas. Uma das coisas que
considero bizarra é a substituição da palavra “medidas”, que têm
conotação política, por “opções”.
TEXTO MAIS OBJETIVO
Segundo Suzana, é necessário abreviar o documento porque “quanto mais
informação você passa, menor é o impacto do que se quer ressaltar”.
— Fica tudo muito diluído. Além disso, não há tomador de decisão que leia mais do que poucas páginas.
Até a classificação de “países em desenvolvimento” gera controvérsia.
Algumas delegações alegam que o termo, que vem do Banco Mundial, não
poderia ser usado como fonte científica. Sua revisão pode repercutir nas
negociações do IPCC, já que as nações em desenvolvimento reivindicam
metas menos rigorosas para o corte de emissões de CO2.
O relatório final do IPCC pautará as discussões da Conferência do
Clima de Paris, em dezembro de 2015. Espera-se que o encontro seja
encerrado com um acordo global, em que cada país comprometa-se
legalmente a diminuir a liberação de gases-estufa. As emissões destas
substâncias devem ser reduzidas entre 40% e 70% até 2050, para que a
temperatura média da Terra suba menos do que 2 graus Celsius no fim do
século. No cenário atual, ela poderia chegar a 7 graus Celsius até 2100.
Na semana passada, a União Europeia anunciou que reduzirá em 40% suas
emissões de gases-estufa até 2030, comparadas aos índices verificados
em 1990.
Por: Renato Grandelle.
Fonte: O Globo, 30/10/2014.