Ferramenta digital
boliviana ensina sobre manejo sustentável das florestas e evidencia a
importância da proteção à cobertura vegetal para a qualidade de vida e a
economia de uma região.
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Desenvolvido na
Bolívia, jogo ensina que o progresso pode coexistir em harmonia com a
natureza e ajuda estudantes a aprender sobre sustentabilidade. (imagem:
reprodução)
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Muito se fala atualmente sobre sustentabilidade nas tantas
conferências internacionais sobre o tema. Mas como colocar, de fato,
esse conceito em prática? O jogo
SimPachamama,
desenvolvido na Bolívia, pode ajudar a treinar e aperfeiçoar a
implementação de ações mais sustentáveis, que promovam o crescimento com
o mínimo possível de agressão à cobertura florestal de uma região, além
de ser uma boa ferramenta para o ensino desse tema.
Lançado no fim do ano passado, o jogo se baseia no princípio da
Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD), criado em
2003 e que sugere dar incentivos financeiros aos países que reduzirem a
emissão de gases-estufa pelo desflorestamento evitado. Nesse sistema,
uma tonelada de CO2 que deixa de ser emitida corresponde a um crédito de carbono, que pode ser negociado no mercado internacional.
O SimPachamama serve como uma ferramenta de disseminação de
informações sobre política ambiental e de orientação sobre o processo de
implementação de práticas de REDD de forma didática e interativa.
“O objetivo do jogador em SimPachamama é atuar como prefeito de uma
comunidade boliviana durante 20 anos. Para ganhar o jogo, ele deve,
nesse período, implementar políticas públicas para aumentar o bem-estar
da população local, causando o menor estrago possível ao meio ambiente”,
explica Lykke Andersen, diretora do Centro para Modelagem e Análise
Ambiental e Econômica, na Bolívia, e coordenadora do projeto em parceria
com a Escola de Economia e Ciência Política de Londres. “As pessoas
podem experimentar diversas e diferentes maneiras de jogar. O jogo para
quando o dinheiro do prefeito acaba, mas você pode tentar de novo”,
conta ela. “E, se ganhar, pode jogar novamente para tentar fazer
melhor.”
Na simulação proposta pelo jogo, as reduções no desmatamento e na
degradação florestal são recompensadas com pagamentos internacionais.
Para ir longe, o jogador precisará entender que é preciso estabelecer um
imposto sobre o desmatamento, ou seja, cobrar uma determinada taxa dos
fazendeiros que quiserem desmatar parte da floresta. “A taxa de
desmatamento acaba fazendo os fazendeiros reduzirem o desmatamento, traz
recursos para o governo e ainda proporciona pagamentos adicionais
internacionais por essa redução”, pondera Andersen.
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Para ganhar o jogo, uma das medidas a serem tomadas é a preservação das
florestas. (foto: Sam Beebe/ Wikimedia Commons – CC BY 2.0) | | |
No jogo, além de uma taxa cobrada sobre o desmatamento, o prefeito
também pode tomar outras medidas para melhorar o bem-estar da comunidade
e proteger o meio ambiente, como investimentos públicos diretos e em
trabalhos ‘verdes’. “Na verdade, o jogador só será capaz de investir
nessas áreas se cobrar o imposto do desmatamento, porque, se não o
fizer, seu dinheiro acaba e o jogo para”, esclarece Andersen.
O nome Pachamama vem do quíchua, língua falada pelas civilizações
andinas, e refere-se à divindade máxima de muitos desses povos, a ‘mãe
terra’. Junto com o fragmento ‘sim’, significa ‘Simulação da mãe terra’.
Em sala de aula
Ao elaborar o SimPachamama, a equipe de Andersen tinha em mente o
público presente em oficinas de consulta sobre o REDD. No entanto, o
governo da Bolívia rejeitou a adoção do REDD e as oficinas não foram
realizadas.
“O governo rejeitou a proposta por entender que ela reduziria
ecossistemas complexos a simples mercadoria, por acreditar que a venda
de créditos de carbono permitiria que os países ricos continuassem suas
próprias emissões e também por defender que o sistema beneficiaria
apenas especuladores e intermediários, em vez de pessoas pobres e o meio
ambiente”, justifica Andersen. “Apesar disso, inesperadamente, o jogo
se tornou muito popular em cursos universitários em um nível
internacional”, completa.
Um bom exemplo disso foi a utilização que o professor Amit Jain fez
em seu curso sobre gestão do ambiente no Instituto de Gestão de Estudos e
Pesquisas Somaiya K.J., na Índia. Um dos pontos abordados nas aulas era
o papel do ambiente ao se tomar decisões de negócios, um tema nem
sempre muito simples de se trabalhar, segundo ele. “Sempre que o tópico
REDD aparecia, eu não tinha muitas ferramentas às quais recorrer, até
que achei o SimPachamama e passei a utilizar com os alunos”, conta Jain.
Apesar de enfrentarem dificuldades no começo, os estudantes aos
poucos se adaptaram ao jogo e descobriram que, se botassem em prática as
propostas do REDD, marcariam mais pontos. “O professor que quiser usar
em sala de aula o SimPachamama deve primeiro se familiarizar com o
recurso, jogar várias vezes antes de apresentar aos alunos”, aconselha
Jain. “Mas eu o recomendo para qualquer docente que estiver planejando
uma aula sobre sustentabilidade, pois o jogo desperta a atenção dos
jovens e os torna mais receptivos para entender a importância do papel
das florestas”, complementa.
Por Isabelle Carvalho
Fonte: Ciência Hoje On-line, 05/06/2014.