sábado, 26 de julho de 2014

Brasil obtém permissão da ONU para explorar minério em fundo do oceano

Segundo estudos do governo federal, área de 3 mil quilômetros quadrados contém minerais raros usados em indústria de alta tecnologia.

Da BBC
Área a ser explorada fica em águas internacionais, a 1.500km da costa do Rio de Janeiro (Foto: Divulgação/CPRM/BBC)Área a ser explorada fica em águas internacionais, a 1.500km da costa do Rio de Janeiro (Foto: Divulgação/CPRM/BBC)

O Brasil foi autorizado por um braço da ONU a explorar recursos minerais em águas internacionais do oceano Atlântico, levantando tanto potenciais ganhos econômicos quanto preocupações ambientais.

Essa mineração submarina é considerada uma nova fronteira na busca por metais preciosos, como manganês, cobre e ouro, que se tornaram essenciais na economia mundial moderna.

A permissão foi concedida pela Autoridade Internacional de Fundos Marinhos (Isba), órgão vinculado à ONU, e confere ao país o direito de atuar por 15 anos em uma área de 3 mil quilômetros quadrados na região do Atlântico conhecida como Elevação do Rio Grande, localizada a cerca de 1,5 mil km do Rio de Janeiro.

O pedido foi feito em dezembro pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) em nome do Ministério de Minas e Energia, depois do investimento de R$ 90 milhões ao longo de quatro anos de estudos sobre o potencial geológico desta área.
 
Potencial econômico
 
O Brasil poderá estudar as chamadas crostas ferromanganesíferas ricas em cobalto em projetos de mineração submarina. Segundo os estudos realizados pela CPRM, esses depósitos foram identificados como os de maior potencial econômico e estratégico em levantamentos realizados em expedições a essa região.

"Nestes 15 anos, mapearemos o que existe lá e avaliaremos seu potencial econômico. Depois, podemos entrar com um novo pedido para explorar economicamente", afirma à BBC Brasil Roberto Ventura Santos, diretor de geologia e recursos minerais do CPRM.

"As possibilidades são interessantes, porque é uma região rica em elementos químicos usados na indústria, especialmente nas de alta de tecnologia, na produção de chips, peças de usinas eólicas e carros elétricos."

Santos afirma ainda que o Brasil ampliará seu conhecimento técnico sobre este tipo de mineração submarina, formará profissionais capacitados a trabalhar nesta área e criará tecnologia para tal.

"Somos o primeiro país da América Latina a conseguir essa permissão e, assim, entramos no seleto grupo de países que fazem este tipo de exploração, como Japão, Estados Unidos e China", diz Santos.
 
Novas permissões

Reservas de metais no fundo do oceano são consderadas nova fronteira da mineração (Foto: Reuters/BBC) 
Reservas de metais no fundo do oceano são consderadas nova fronteira da mineração 
(Foto: Reuters/BBC)

Além do Brasil, a ONU concedeu outras seis novas permissões a empresas públicas e estatais do Reino Unido, Cingapura, Ilhas Cook, Índia, Alemanha e Rússia.

Com isso, a área total do leito oceânico liberada para exploração foi ampliada para 1,2 milhão de quilômetros quadrados, sob um total de 26 permissões de exploração científica.

A ONU ainda não conferiu nenhuma permissão de exploração econômica, conhecida como explotação, mas as primeiras devem ser concedidas nos próximos anos, segundo a Isba.

"Existe um interesse crescente", disse Michael Lodge, da Isba, à BBC. "A maioria dessas últimas permissões foi concedida a empresas que esperam minerar estas áreas em pouco tempo".

No entanto, ainda precisam ser negociadas as condições e regras dessa atividade econômica, como por exemplo a divisão de royalties, já que um dos princípios básicos da Isba é que as riquezas do fundo do oceano devem ser compartilhadas globalmente.

A exploração mineral do fundo oceano começou a ser investigada na década de 1960, mas só recentemente tornou-se possível graças a avanços tecnológicos – criados nas indústrias de petróleo e gás. Ao mesmo tempo, o preço destas matérias-primas aumentou, aumentando o potencial retorno econômico, o que viabilizou os investimentos necessários para obtê-las.
 
Impacto ambiental
 
No entanto, esse tipo de exploração não é vista com bons por grupos de defesa do meio ambiente, que alegam que a exploração pode trazer prejuízos para ecossistemas marinhos. Um protocolo para minimizar o impacto ambiental ainda está sendo estudado.

O biólogo marinho Jon Copley, da Universidade de Southampton, vem monitorando a mineração nas chamadas dorsais oceânicas, nome dado às cadeias de montanhas submersas que se originam do afastamento de placas tectônicas.

"Cerca de 6.000km de dorsais oceânicas, ou 7,5% do total, são exploradas hoje por seu potencial mineral", afirma Copley.

"Essas dorsais são um dos três locais do fundo do oceano em que há depósitos minerais que atraem o interesse de países e empresas. Mas também vivem nestes locais colônias de espécies que não são encontradas em outras partes do oceano e podem ser suscetíveis a impactos ambientais gerados pela mineração."

Santos, da CPRM, diz que isso será levado em conta no caso brasileiro: "Faremos um estudo de impacto ambiental junto com o de potencial econômico. Nosso pedido foi muito elogiado por causa disso".

Fonte: O Globo. 24/07/2014.


 

terça-feira, 15 de julho de 2014

Biólogos alertam que emissário de Ipanema pode gerar danos à biodiversidade

Tubulação tem servido de passagem para o despejo maciço de produtos de difícil decomposição ou altamente poluentes


RIO — O fotógrafo Carlos Secchin tinha o hábito de mergulhar, dia e noite, nas imediações do emissário submarino de Ipanema, onde se acostumou a encontrar peixes como robalos, linguados e pampos. Registrou centenas de imagens de corais que cresceram ao longo da tubulação. Há seis anos, porém, ele se viu obrigado a abandonar o hobby: o mar ganhou aspecto turvo, impedindo qualquer contemplação marinha. Ele não é o único a notar essa mudança. Pesquisadores e ambientalistas alertam para os efeitos nocivos da grande quantidade de lixo que vem sendo despejada no oceano, atingindo a biodiversidade do Monumento Natural das Ilhas Cagarras.

Durante muito tempo, a tubulação teve um fluxo basicamente composto por matéria orgânica. Hoje, o emissário também serve de passagem para o despejo maciço de produtos agressivos ao meio ambiente, de difícil decomposição ou altamente poluentes.

— O mergulho cênico acabou — lamenta Sechin. — A qualidade e a transparência da água caíram muito desde 2008, quando parei de mergulhar em Ipanema. Por questões de segurança, eu não costumava ir até a boca do emissário, mas saía quase meio quilômetro mar adentro, a 20 metros de profundidade. Hoje não dá mais para fazer isso.

PESQUISADOR COBRA TRATAMENTO

Na avaliação de Paulo Cesar Rosman, coordenador do Programa de Engenharia Oceânica da Coppe/UFRJ, nada justifica a ausência de um sistema de peneiramento do material jogado nas redes de esgoto de 15 bairros, da Glória a São Conrado, que acaba desembocando no mar de Ipanema. Ele ressalta que qualquer objeto com diâmetro igual ou inferior ao de uma bola de tênis passa pela única grade instalada na tubulação.

— Do ponto de vista da engenharia, no caso específico de Ipanema, poderia ser dispensado o tratamento primário para se jogar esgoto no mar, pois a natureza, pela dinâmica do local, se encarrega de matar as bactérias. No entanto, a Lei estadual 2.661/1996 obriga a realização desse serviço. Até entendo que o poder público dê uma autorização especial para dispensá-lo, considerando a falta de espaço físico para a construção de uma estação de tratamento de esgoto. Mas não existir até hoje um sistema de pré-condicionamento do material despejado, um peneiramento progressivo, é algo inadmissível. Seria algo perfeitamente viável e barato. Infelizmente, os cariocas ainda jogam uma grande quantidade de objetos nos vasos sanitários — afirma Rosman.


Prestes a completar quatro décadas de funcionamento (foi inaugurado em 1975), o emissário de Ipanema atraía não só cardumes, mas milhares de cariocas e turistas. As dunas artificiais formadas durante sua construção, assim como um píer em frente à Rua Farme de Amoedo, acabaram se tornando pontos de referência cultural. Hoje, saiu de moda, mas não se pode dizer que está ultrapassado. Carrega 6.400 litros de esgoto por segundo (quantidade produzida por cerca de 950 mil pessoas), mas tem capacidade para suportar o dobro. Feita de polietileno e concreto, sua estrutura tem 3.600 metros de extensão submarina e mil em área terrestre. Os dejetos que recebe são jogados no mar por 180 difusores.

Supervisor de monitoramento do Projeto Ilhas do Rio, o biólogo Carlos Rangel defende a instalação de um sistema de tratamento primário como o do emissário da Barra, inaugurado no fim de 2006. Ele afirma que, em Ipanema, o esgoto afeta profundamente o Monumento Natural das Ilhas Cagarras. Segundo ele, 83% das coletas feitas pela equipe do projeto na região mostraram índices de oxigênio inferiores ao valor mínimo previsto pela resolução federal para águas destinadas à recreação e à proteção de comunidades aquáticas. Biólogos também detectaram a presença de metais pesados em aves e mexilhões.

— O esgoto cai a menos de dois quilômetros da ilha. Se o emissário fosse construído hoje, seria exigido um estudo de impacto ambiental — observa Rangel.

O presidente da Cedae, Wagner Victer, diz ser uma “total insanidade” pensar em fazer tratamento primário no esgoto que chega ao emissário de Ipanema:
— É mais fácil colocar uma usina nuclear em Búzios do que uma estação de tratamento de esgoto na Zona Sul. Além de despropositado do ponto de vista da engenharia, não temos espaço. Vamos colocar a estação no Jockey? Isso não existe. Aí sim, teríamos um impacto ambiental.

Victer afirma que há tratamento primário de esgoto no emissário da Barra porque sua construção ocorreu depois da legislação estadual sobre o tema. Ele diz ainda que, em dezembro, a Cedae divulgará um boletim sobre a qualidade de água no entorno da tubulação de Ipanema.

Fonte: Emanuel Alencar. O Globo, 14/07/2014.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Estudo encontra poluição de plástico em 88% da superfície dos mares

Expedição feita em 2010 coletou mais de 3 mil amostras oceânicas. Estima-se que oceano tenha entre 10 mil e 40 mil toneladas de plástico.

 Foto de 2008 mostra detritos na Baía de Hanauma, no Havaí (Foto: AP Photo/NOAA Pacific Islands Fisheries Science Center)
Foto de 2008 mostra detritos na Baía de Hanauma, no Havaí (Foto: AP Photo/NOAA Pacific Islands Fisheries      Science Center)

Até 88% da superfície dos oceanos do mundo está contaminada com lixo plástico, elevando a preocupação com os efeitos sobre a vida marinha e a cadeia alimentar, afirmaram cientistas nesta segunda-feira (30).

Os produtos plásticos produzidos em massa para brinquedos, sacolas, embalagens de alimentos e utensílios chegam aos mares arrastados pela água da chuva, um problema que deve piorar nas próximas décadas.

As descobertas, publicadas no periódico "Proceedings of the National Academy of Sciences" ("PNAS"), se baseiam em mais de 3 mil amostras oceânicas, coletadas ao redor do mundo por uma expedição científica em 2010.

"As correntes oceânicas carregam objetos plásticos, que se partem em fragmentos menores, devido à radiação solar", disse o diretor das pesquisas, Andrés Cozar, da Universidade de Cádiz, na Espanha.

"Estes pequenos pedaços de plástico, conhecidos como microplásticos, podem durar centenas de anos e foram detectados em 88% da superfície oceânica analisada durante a Expedição Malaspina 2010", acrescentou.

Os cientistas avaliaram que a quantidade total de plástico nos oceanos do mundo - entre 10 mil e 40 mil toneladas - atualmente é menor do que as estimativas anteriores. No entanto, levantaram novas preocupações sobre o destino de tanto plástico, particularmente os pedaços menores.

O estudo revelou que os fragmentos de plástico, "entre alguns mícrons e alguns milímetros de tamanho, são sub-representados em amostras da superfície do mar".

Mais pesquisas são necessárias para descobrir aonde estas partículas vão e quais os efeitos que têm na vida marinha.

"Estes microplásticos têm influência no comportamento e na cadeia alimentar de organismos marinhos", disse Cozar. "Mas provavelmente, a maioria dos impactos relacionada à poluição do plástico nos oceanos não é conhecida", concluiu.

Fonte: G1 Natureza, 01/07/2014.