sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Para além da Amazônia

Gestão ambiental, impacto das mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável na região amazônica foram destaque nos últimos dias da Reunião Anual da SBPC. Mas evento não se restringiu a questões locais e abordou outros temas relevantes para a pesquisa e o ensino no país.

Para além da Amazônia
Como esperado, assuntos relacionados à Amazônia estiveram em evidência nesta edição da Reunião Anual da SBPC, realizada no Acre. (foto: Marcelo Garcia)

Realizada em plena floresta amazônica, em Rio Branco, no Acre, a 66ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) não poderia se furtar de debater em profundidade temas associados à exploração e preservação dos vastos recursos naturais da região. Porém, o que se viu foram discussões que abordaram questões caras não só ao desenvolvimento sustentável da Amazônia, mas ao progresso da pesquisa e do ensino em todo o país. Mudanças climáticas, reforma universitária, democratização dos meios de comunicação, ética na pesquisa e muitos avanços científicos foram apresentados nas salas e auditórios que abrigaram o maior evento científico do país, encerrado no domingo (27/07).

De forma complementar ao debate sobre a falta de doutores no Norte do país, discutiu-se, por exemplo, a necessidade de se fortalecerem as universidades da região, com a criação de projetos conectados com o principal vetor de desenvolvimento regional: a floresta. Em conferência na última sexta-feira (25/07), o ministro da Educação, José Henrique Paim, prometeu empenho e investimento na área e utilizou a própria Universidade Federal do Acre para exemplificar o gargalo que existe na região: com quase meio século de existência, apenas em 2014 a instituição criou seu primeiro curso de doutorado.

O ministro também ressaltou a necessidade de um novo modelo universitário em geral, que leve em conta o papel dessas entidades no desenvolvimento do país e que mantenha relação mais próxima com o setor industrial. Nesse sentido, citou o recém-anunciado programa Plataformas do Conhecimento como alternativa para fomentar a cooperação entre o setor produtivo e as instituições de ciência e tecnologia. Paim ainda destacou a necessidade de internacionalizarmos nossas instituições: mesmo elogiando o programa Ciência sem Fronteiras, defendeu que é preciso ir mais longe nesse processo de cooperação entre universidades brasileiras e do exterior.

Duas mesas-redondas também falaram sobre a necessidade de reformas no ensino brasileiro. Uma delas relacionou a dificuldade de atrair e fixar doutores na Amazônia à falta de recursos, de condições de pesquisa e de infraestrutura da região. Sem escolas particulares e sistema de saúde de primeira linha, por exemplo, a capacidade de manter doutores diminui, argumentaram os palestrantes – e os resultados aparecem, por exemplo, na discrepância regional em indicadores de competência científica e de educação.

Na outra mesa, pesquisadores defenderam que é preciso estimular a autonomia, a sustentabilidade financeira e a maior capacidade de operação da pesquisa básica aplicada nas universidades brasileiras. Os debatedores problematizaram a emergência de grandes conglomerados privados de ensino superior, a necessidade de repensar os instrumentos de avaliação e supervisão dessas instituições, a perda de terreno do ensino presencial para o ensino a distância e a importância de levar a universidade a mais municípios do país, além da defenderem a adoção de currículos mais leves e interdisciplinares.

Foco na Amazônia


Como não poderia deixar de ser, a questão ambiental também foi destaque no evento. Em uma das palestras mais aguardadas, o climatologista Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus, abordou o impacto das mudanças climáticas na gestão de risco na Amazônia. O francês radicado no Brasil há 40 anos chamou a atenção para a relação entre hidrelétricas e a emissão de gás metano, um dos principais causadores do efeito estufa, e defendeu que a implantação das hidrelétricas de Tucuruí e Belo Monte, no Pará, e de Santo Antônio, em Rondônia, foi fundamental para a ocorrência das secas e enchentes recentes na Amazônia – a cheia do rio Madeira, por exemplo, isolou o Acre por dez dias no início do ano.

Um recurso pouco conhecido presente na região, o Sistema Aquífero Grande Amazônia, também foi lembrado nas palestras. Com mais de 162 quilômetros cúbicos de água escondida no subterrâneo, relativos a quatro bacias hidrográficas (Acre, Solimões, Amazonas e Marajó), o aquífero teria importância vital para a manutenção do sensível equilíbrio climático da floresta, em especial seu regime de chuvas – o que o torna fundamental para o clima de todo o país e até para atividades como a geração de energia elétrica. 

O passado da região amazônica foi explorado pelo professor Jonas Pereira de Souza Filho, da Ufac. Ele apresentou registros fósseis de jacarés, tartarugas, jabutis, capivaras, aves gigantes, preguiças e outros animais, a maioria deles extintos, mas que já reinaram na região e são prova de que a grande floresta de hoje é apenas o estado atual da longa história evolutiva da própria Terra. Os achados indicam que a Amazônia já foi um enorme pantanal e uma savana – retorno ao passado que pode ajudar, inclusive, a pensar sobre o futuro da região.


Por: Marcelo Garcia
Fonte: Ciência Hoje On-line, 28/07/2014
Para acessar a matéria completa clique aqui.


Nenhum comentário:

Postar um comentário