terça-feira, 10 de junho de 2014

Jogo da preservação

Ferramenta digital boliviana ensina sobre manejo sustentável das florestas e evidencia a importância da proteção à cobertura vegetal para a qualidade de vida e a economia de uma região. 


Jogo da preservação
Desenvolvido na Bolívia, jogo ensina que o progresso pode coexistir em harmonia com a natureza e ajuda estudantes a aprender sobre sustentabilidade. (imagem: reprodução)
Muito se fala atualmente sobre sustentabilidade nas tantas conferências internacionais sobre o tema. Mas como colocar, de fato, esse conceito em prática? O jogo SimPachamama, desenvolvido na Bolívia, pode ajudar a treinar e aperfeiçoar a implementação de ações mais sustentáveis, que promovam o crescimento com o mínimo possível de agressão à cobertura florestal de uma região, além de ser uma boa ferramenta para o ensino desse tema.

Lançado no fim do ano passado, o jogo se baseia no princípio da Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD), criado em 2003 e que sugere dar incentivos financeiros aos países que reduzirem a emissão de gases-estufa pelo desflorestamento evitado. Nesse sistema, uma tonelada de CO2 que deixa de ser emitida corresponde a um crédito de carbono, que pode ser negociado no mercado internacional.

O SimPachamama serve como uma ferramenta de disseminação de informações sobre política ambiental e de orientação sobre o processo de implementação de práticas de REDD de forma didática e interativa.

“O objetivo do jogador em SimPachamama é atuar como prefeito de uma comunidade boliviana durante 20 anos. Para ganhar o jogo, ele deve, nesse período, implementar políticas públicas para aumentar o bem-estar da população local, causando o menor estrago possível ao meio ambiente”, explica Lykke Andersen, diretora do Centro para Modelagem e Análise Ambiental e Econômica, na Bolívia, e coordenadora do projeto em parceria com a Escola de Economia e Ciência Política de Londres. “As pessoas podem experimentar diversas e diferentes maneiras de jogar. O jogo para quando o dinheiro do prefeito acaba, mas você pode tentar de novo”, conta ela. “E, se ganhar, pode jogar novamente para tentar fazer melhor.”

Na simulação proposta pelo jogo, as reduções no desmatamento e na degradação florestal são recompensadas com pagamentos internacionais. Para ir longe, o jogador precisará entender que é preciso estabelecer um imposto sobre o desmatamento, ou seja, cobrar uma determinada taxa dos fazendeiros que quiserem desmatar parte da floresta. “A taxa de desmatamento acaba fazendo os fazendeiros reduzirem o desmatamento, traz recursos para o governo e ainda proporciona pagamentos adicionais internacionais por essa redução”, pondera Andersen.

Floresta
Para ganhar o jogo, uma das medidas a serem tomadas é a preservação das florestas. (foto: Sam Beebe/ Wikimedia Commons – CC BY 2.0)  
No jogo, além de uma taxa cobrada sobre o desmatamento, o prefeito também pode tomar outras medidas para melhorar o bem-estar da comunidade e proteger o meio ambiente, como investimentos públicos diretos e em trabalhos ‘verdes’. “Na verdade, o jogador só será capaz de investir nessas áreas se cobrar o imposto do desmatamento, porque, se não o fizer, seu dinheiro acaba e o jogo para”, esclarece Andersen.

O nome Pachamama vem do quíchua, língua falada pelas civilizações andinas, e refere-se à divindade máxima de muitos desses povos, a ‘mãe terra’. Junto com o fragmento ‘sim’, significa ‘Simulação da mãe terra’.

 

Em sala de aula


Ao elaborar o SimPachamama, a equipe de Andersen tinha em mente o público presente em oficinas de consulta sobre o REDD. No entanto, o governo da Bolívia rejeitou a adoção do REDD e as oficinas não foram realizadas.

“O governo rejeitou a proposta por entender que ela reduziria ecossistemas complexos a simples mercadoria, por acreditar que a venda de créditos de carbono permitiria que os países ricos continuassem suas próprias emissões e também por defender que o sistema beneficiaria apenas especuladores e intermediários, em vez de pessoas pobres e o meio ambiente”, justifica Andersen. “Apesar disso, inesperadamente, o jogo se tornou muito popular em cursos universitários em um nível internacional”, completa.

Um bom exemplo disso foi a utilização que o professor Amit Jain fez em seu curso sobre gestão do ambiente no Instituto de Gestão de Estudos e Pesquisas Somaiya K.J., na Índia. Um dos pontos abordados nas aulas era o papel do ambiente ao se tomar decisões de negócios, um tema nem sempre muito simples de se trabalhar, segundo ele. “Sempre que o tópico REDD aparecia, eu não tinha muitas ferramentas às quais recorrer, até que achei o SimPachamama e passei a utilizar com os alunos”, conta Jain.

Apesar de enfrentarem dificuldades no começo, os estudantes aos poucos se adaptaram ao jogo e descobriram que, se botassem em prática as propostas do REDD, marcariam mais pontos. “O professor que quiser usar em sala de aula o SimPachamama deve primeiro se familiarizar com o recurso, jogar várias vezes antes de apresentar aos alunos”, aconselha Jain. “Mas eu o recomendo para qualquer docente que estiver planejando uma aula sobre sustentabilidade, pois o jogo desperta a atenção dos jovens e os torna mais receptivos para entender a importância do papel das florestas”, complementa.

Por Isabelle Carvalho
Fonte: Ciência Hoje On-line, 05/06/2014.



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