Animal, semelhante a uma anta, viveu no período Paleoceno e foi encontrado no Parque Paleontológico de São José
A ossada de um xenungulado (Carodnia Vieirai), que parece com uma anta, embora ambos não sejam ‘parentes’ - / Divulgação/Prefeitura de Itaboraí |
RIO - Encontrado recentemente por pesquisadores no Parque
Paleontológico de São José, em Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio —
como adiantou Ancelmo Gois, em sua coluna, no GLOBO —, o fóssil de um
xenungulado (Carodnia vieirai) será transportado para ser
estudado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) na manhã desta
sexta-feira. O animal, com corpo e tamanho semelhantes ao de uma anta,
viveu na época da formação da Bacia de Itaboraí, há cerca de 55 milhões
de anos, e é o maior mamífero do período Paleoceno já localizado na
América do Sul.
O início do resgate do fóssil está previsto para as 9h, com a
presença da paleontóloga Lilian Bergqvist, da UFRJ, e de sua equipe,
além do subsecretário municipal de Meio Ambiente de Itaboraí, André
Pereira, e o gerente do Parque, o biólogo Luís Otávio Castro,
responsável pela descoberta. Em caso de chuva, a ação será adiada para a
segunda-feira.
Em nota, a prefeitura de Itaboraí explicou que, pelo fato de
os ossos se encontrarem em um calcário muito duro, será preciso que
eles sejam desmembrados da rocha apenas no Laboratório de Preparação de
Macrofósseis, da UFRJ, para onde será levado o material: “No local, que
já conta com uma réplica do esqueleto montada por Bergqvist, eles serão
tombados para, posteriormente, retornarem ao Parque de São José, onde
permanecerão para observação pública”.
O Parque Paleontológico de São José, criado em 1995 e eleito pela Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos, órgão ligado à Unesco, Patrimônio da Humanidade - / Divulgação/Prefeitura de Itaboraí |
— Percorrendo a Trilha do Pescador, em uma atividade de
rotina, avistei uma rocha na qual notei algo diferente. Quando me
aproximei, vi que se tratava de um fóssil, e logo entrei em contato com a
Lilian Bergqvist, que é a profissional de referência que temos para
fazer esse tipo de estudo por aqui — disse Luis Otávio, que no momento
da descoberta estava acompanhado do professor Emiliano Oliveira,
pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), segundo a
nota.
Apesar da similaridade morfológica com a anta atual, o
Carodnia Vieirai não tem parentesco com o animal. Primo do argentino
Carodnia Feruglioi, estima-se que o Vieirai habitava exclusivamente as
redondezas da região de Itaboraí.
— Esse achado é de grande importância para a paleontologia, e
também para o Parque Paleontológico de Itaboraí, mostrando que a Bacia
deve ser valorizada pela população, como já é pelos estudiosos. Isso
também nos estimula ainda mais a continuar abrindo trilhas e clareiras
para seguir na busca por mais descobertas, sempre em equilíbrio com a
preservação ambiental. Para isto, fazemos as escavações apenas em blocos
rolados, não comprometendo a integridade dos afloramentos remanescentes
— destacou Lilian Bergqvist, que atua no local desde 1994, também na
nota divulgada pela prefeitura de Itaboraí.
No Parque Paleontológico de São José já foram descobertos fósseis de
diversos mamíferos, gastrópodes, répteis e anfíbios, se destacando o
tatu mais antigo do mundo e o ancestral das emas, ambos do período
Paleoceno. Também foram achados lá fósseis de preguiça gigante e
mastodonte, da Idade Pleistocênica (há aproximadamente 20 mil anos).
Gerido pela prefeitura do município e dirigido pela arqueóloga Maria
Beltrão, o local também abriga restos arqueológicos, o que evidencia a
presença do homem pré-histórico por lá há milhares de anos. Maria
Beltrão estima existir ali um fóssil humano cujo possível achado mudaria
a história da ocupação das Américas.
Fóssil encontrado em Itaboraí, onde arqueólogos também já acharam restos de uma preguiça gigante e de um mastodonte, da Idade Pleistocênica - / Divulgação/Prefeitura de Itaboraí |
Em 1928, um fazendeiro achou pedaços de rocha que considerou
interessantes. Levou para análise e descobriu que se tratava de
calcário. Com isso, a área onde hoje é o Parque Paleontológico foi
vendida para a Companhia Nacional de Cimento Mauá, que aproveitou o
material na construção da Ponte Rio-Niterói e do Maracanã.
Com a exploração mineral, descobriram-se vestígios
arqueológicos. E quando o calcário terminou, em 1984, restou uma
depressão de 70 metros, que foi progressivamente coberta com água da
chuva e de veios subterrâneos, erguendo um grande lago. Seis anos
depois, em 1990, a prefeitura de Itaboraí declarou a área de utilidade
pública, através de um processo de desapropriação. Com isto, em 1995,
nascia o Parque Paleontológico de São José, eleito pela Comissão
Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (Sigep), órgão ligado à
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(Unesco), um dos patrimônios da humanidade.
Fonte: O Globo. 28/08/2014.
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